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Foto do escritorDaniele Pendeza

Feliz dia a todas as crianças (às de hoje às de ontem)!



CANTIGA QUASE DE RODA

(Thiago de Mello, in Faz Escuro Mas eu Canto - 1965)


Na roda do mundo

lá vai o menino.

O mundo é tão grande

e os homens tão sós.

De pena, o menino

começa a cantar.

(Cantigas afastam

as coisas escuras.)

Mãos dadas aos homens,

lá vai o menino,

na roda da vida

rodando e cantando.

A seu lado, há muitos

que cantam também:

cantigas de escárnio

e de maldizer.

Mas como ele sabe

que os homens, embora

se façam de fortes,

se façam de grandes,

no fundo carecem

de aurora e de infância

— então ele canta

cantigas de roda

e às vezes inventa

algumas — mas sempre

de amor ou

de amigo.

Cantigas que tornem

a vida mais doce

e mais brando o peso

das sombras que o tempo

derrama, derrama

na fronte dos homens.

Na roda do mundo

lá vai o menino,

rodando e cantando

seu canto de infância.

Pois sabe que os homens

embora se façam

de graves, de fortes,

no fundo carecem

de claras cantigas

— senão ficam ocos,

senão endoidecem.

E então ele segue

cantando de bosques,

de rosas e de anjos,

de anéis e cirandas,

de nuvens e pássaros,

de sanchas senhoras

cobertas de prata,

de barcas celestes

caídas no mar.

Na roda do mundo,

mãos dadas aos homens,

lá vai o menino

rodando e cantando

cantigas que façam

o mundo mais manso

cantigas que façam

a vida mais justa,

cantigas que façam

os homens mais crianças.


EPITÁFIO


O canto desse menino

talvez  tenha sido em vão.

Mas ele fez o que  pôde.

Fez  sobretudo  o que sempre

lhe mandava o coração.



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