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Foto do escritorDaniele Pendeza

Os olhos falam - a importância do contato visual na Musicoterapia


O contato visual tem sido estudado há muitos anos, pois além de ser algo natural em grande parte da diversidade humana, também é importante para o nosso desenvolvimento. Olhar diretamente para os olhos de outra pessoa aumenta nossa atenção para as trocas interpessoais, pois assim estamos inteiramente presentes naquele momento, deixando quaisquer outras distrações de lado.


Essa situação é importante para nosso desenvolvimento social, pois aprendemos a perceber e interagir com o outro; para o desenvolvimento emocional, pois colabora na construção de laços afetivos e para o desenvolvimento cognitivo e intelectual, pois no contato visual realizamos compartilhamento de tópicos e situações que favorecerão nossa aprendizagem pessoal, sobre o outro e sobre o mundo, além de ser muito importante para a imitação e comunicação.


Entretanto, em alguns momentos e para algumas pessoas o contato visual não é tão simples e natural assim. Kajimura e Nomura (2016) abordaram em seu artigo When we cannot speak: Eye contact disrupts resources available to cognitive control processes during verb generation, observaram que embora o contato visual e o processamento verbal pareçam independentes, as pessoas frequentemente desviam os olhos de interlocutores durante a conversa. Isso sugere que há interferência entre esses processos. Os autores demonstraram que o contato visual compartilha recursos cognitivos gerais com o processamento verbal, sendo que um pode interferir no outro. Isso indica ainda que uma compreensão completa da comunicação funcional e disfuncional deve considerar a interação e a interferência de canais verbais e não verbais.


Essa pesquisa está em consonância com o que observamos em grande parte das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), por exemplo, onde encontramos relatos de que o contato visual não ocorre, ou ocorre de uma maneira furtiva desde os primeiros meses de vida do bebê. No caso das pessoas com autismo, existe a dificuldade de realização comunicação verbal e não verbal (que envolve gestos e posturas como o olhar nos olhos durante a interação social), além da dificuldade de processamento sensorial e de funções executivas (que não necessariamente acontecem em todos os casos e nem ao mesmo tempo, mas são muito comuns nessa população).


E na Musicoterapia? Bom, a Musicoterapia é uma terapia relacional, ou seja, que considera a relação dos participantes (terapeutas e usuários) entre si e com a música. É uma tríade, um momento de atenção compartilhada onde os participantes compartilham um "objeto", que é a própria música. Nesse processo, o contato visual intensifica o encontro que se dá nas demais vias sensoriais (em especial auditiva, visual, proprioceptiva, vestibular e tátil), facilitando e aumentando a comunicação não verbal.


Sabe quando as pessoas fazem música em conjunto, seja em uma banda, coral ou orquestra, e elas precisam apenas de uma "olhadinha" para comunicar uma gama de questões musicais como mudança de tom, dinâmica, um "vem comigo, agora", ou simplesmente para mostrar se está tudo bem (ou tudo mal quando um dos músicos se perde)? O contato visual tem uma força incrível nessa comunicação não verbal, e por isso eu digo que os olhos falam.


Referência

Kajimura, S., & Nomura, M. (2016). When we cannot speak: Eye contact disrupts resources available to cognitive control processes during verb generation. Cognition, 157, 352–357. doi:10.1016/j.cognition.2016.10.002

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