Que eu sou Musicoterapeuta, vocês já sabem. Mas as teorias que eu estudo e que embasam minha prática, talvez seja uma novidade.
Por muito tempo (desde quando trabalhava apenas com educação musical especial) eu me considero Comportamentalista. Porém, conforme fui aprofundando meus estudos, percebi que essa teoria não é capaz de responder todas as dúvidas e necessidades da clínica.
Assim, passei a estudar mais sobre a Musicoterapia Centrada na Família, e aprender a importância de envolver os pais e cuidadores em todas as etapas do processo. Busco as teorias sobre o desenvolvimento infantil especialmente para embasar minhas avaliações. As teorias da Neurodiversidade colaboram para aprimorar minha empatia e visão integral da criança que está na minha frente, sem tentar normatizá-la e respeitá-la dentro de suas necessidades. Por fim, os estudos da musicoterapeuta americana Dorita Berger têm me acompanhado, a fim de compreender melhor o processamento sensorial e como essas questões podem afetar (positiva ou negativamente) a sessão de Musicoterapia.
1. Musicoterapia Comportamental
A Musicoterapia Comportamental (baseada na ciência da Análise do Comportamento Aplicada) é a teoria central do meu trabalho.
A partir dela, realizo a análise funcional do comportamento, crio rotinas e suportes visuais (Comunicação Alternativa e Aumentativa), estruturo o setting, embaso a avaliação do desenvolvimento da criança e das sessões a partir do viés naturalista.
2. Musicoterapia Centrada na Família
Essa é a segunda teoria que eu mais gosto, a Musicoterapia Centrada na Família!
Quando comecei a trabalhar, sempre achei estranha a orientação de dar apenas um feedback no final da sessão (e olhe lá, se a recepção estiver muito cheia, a orientação era de apenas falar os pontos positivos e tchau!). Vídeos só podiam ser compartilhados com autorização de quem estava acima de mim na gestão do processo e o contato com as famílias era muito limitado.
Antes mesmo de conhecer a MT Centrada na Família eu já pensava que não é muito esperto excluir a família do processo terapêutico. Eu atendo, majoritariamente, crianças pequenas que necessitam dos pais para tudo. Então não seria de bom tom que eles tivessem ferramentas e colaborassem com o desenvolvimento dos objetivos, seja participando da sessão ou realizando estimulação em casa?
Assim que passei a pesquisar e compreender a família como parte fundamental do processo terapêutico, através de uma participação ativa e da orientação parental.
Também acho importante colocar aqui que nem sempre os pais entram na sessão e nem sempre tem "tema de casa", tudo depende do caso! Tem crianças que pedem para os pais irem junto, outras preferem ficar apenas comigo. Mas nesses casos, é importante passar todas as orientações e informações necessárias para os responsáveis (e a internet e as redes sociais e de comunicação vieram facilitar muito esse trabalho!).
3. Musicoterapia Centrada no Desenvolvimento
A Musicoterapia Centrada no Desenvolvimento utiliza os marcos do desenvolvimento como guia nas escolhas da intervenção (quais instrumentos utilizar, qual repertório e quais atividades são adequadas para a idade da criança...).
Não é uma busca por normatização (tentar fazer com que a criança seja igual a uma tabela de um livro), mas uma compreensão sobre o que é demanda a ser desenvolvida e o que é característica pessoal.
4. Musicoterapia Centrada na Neurodiversidade
A Musicoterapia Centrada na Neurodiversidade está cada vez mais buscando escutar e compreender o lugar de fala das pessoas neurodivergentes, fazendo-as participantes ativas do processo terapêutico.
A Neurodiversidade considera que condições como o autismo, TDAH, dislexia, AH/SD, entre outras, como variações naturais da neurologia humana, e não doenças ou distúrbios que necessitam ser curados. Ainda, entende-se que as pessoas neurodiversas deveriam ser mais respeitadas dentro da sociedade por conta do seu funcionamento diferenciado, e a partir do recebimento de atendimentos e acessibilidade condizentes com suas necessidades, terem a oportunidade de desenvolver o seu pleno potencial.
Você já perguntou para o seu/sua cliente (seja ele verbal ou não) o que ele acha das suas sessões? Se tem algo que ele/ela gostaria que você mudasse?
5. Processamento Sensorial (Dorita Berger)
Os estudos sobre o Processamento Sensorial, realizadas pela musicoterapeuta americana Dorita Berger, trazem a compreensão acerca dos sentidos, do processamento sensorial e da integração entre eles no setting musicoterapêutico.
Nas sessões de Musicoterapia os sentidos não são explorados da mesma forma que em outras terapias. O foco maior se dá no auditivo, porém, ao manipular instrumentos musicais e realizar técnicas de música e movimento, outros sentidos são acessados, mesmo que secundariamente, e a compreensão de como isso afeta o desenvolvimento da criança e da sessão, são muito importantes.